sexta-feira, 20 de julho de 2012

Pelo buraco da fechadura*

Texto escrito para o blog TV Microondas.


Sobre o que falar. Essa é a dúvida que impera quando iniciamos algo novo. Será que devo me apresentar? Falar um pouco sobre este espaço? Posso até tentar, mas já me cansei só no pensar. Dispenso as apresentações por enquanto, mas ainda não resolvo o meu dilema: sobre o que falar.

Esse é um espaço idealizado por dois amantes da comunicação e dedicado a ela. E esta é uma coluna comandada por mim e sobre um assunto muito interessante (olha a imparcialidade!): teatro. 

E, como num estalo, imbuído nas maiores confluências da vida, eu encontro a pessoa certeira para esse novo começo. Nelson Rodrigues tem três motivos, no mínimo, para aparecer por aqui.


Ei-los:

1) No dia 23 de agosto, com muita festa, comemora-se o centenário do dramaturgo.

2) Nelson foi um mix notável, daqueles que são produzidos com um grande espaço de tempo. Ótimo jornalista e um marco no teatro brasileiro.

3) Dica cultural para o final de semana: O “com muita festa” do primeiro tópico se refere às diversas comemorações e homenagens que surgirão, e já estão acontecendo, no país todo. Exemplo? Ocupação Nelson Rodrigues, no Itaú Cultural, da Av. Paulista.



Uma fábrica de tiradas dramáticas*

Nelson nasceu no Recife (PE), em 1912. Notabilizou-se como um dos maiores dramaturgos do Brasil e ficou muito conhecido por suas crônicas esportivas. Já ouviu falar do “complexo de vira-latas”? 

Aos 4 anos de idade, junto com sua mãe e seus três irmãos, precisou se mudar para a cidade do Rio de Janeiro. O pai, Mário Rodrigues, começou a trabalhar no jornal Correio da Manhã e depois tornou-se dono do A Manhã. Nelson foi trabalhar com o pai e ficou na editoria de polícia durante muito tempo, onde desenvolveu um estilo único que se estabeleceria como sua marca inconfundível e invadiria suas crônicas tão “trágicas”. Dos tempos como repórter policial, acumulou um vasto conhecimento e senso de observação a respeito da sociedade em que vivia.

A Mulher sem Pecado foi sua primeira peça. No entanto, foi Vestido de Noiva que marcou a dramaturgia nacional e a vida de Nelson Rodrigues. Encenada pela primeira vez em 1943, pelo diretor polonês Zbigniew Ziembinski, Vestido Noiva simbolizou uma renovação nos palcos brasileiros e o início da modernização do teatro nacional. Nada de parecido havia sido feito até então. 

Em 1944, publica Meu Destino é Pecar, n’O Jornal, sob o pseudônimo de Suzana Flag. A Vida como Ela É..., série de crônicas sobre a vida real, começa a ser publicada em 1951, no Última Hora, de Samuel Wainer, e permanece no jornal por dez anos. Em 1962, Nelson deixa transparecer sua paixão por futebol e começa a escrever crônicas esportivas. No entanto, Complexo de Vira-Latas, última crônica antes da estreia do Brasil na Copa de 1958, e que se tornaria um clássico, foi publicado na revista Manchete Esportiva em 31 de maio.

Dizem que Nelson era um cronista esportivo tão bom que nem precisava ver o jogo. Houve um episódio em que o escritor recebeu o jornalista Geneton Moraes Neto para uma entrevista na hora do jogo da seleção brasileira, sobre o qual iria escrever mais tarde, e pediu a sua esposa que desligasse a televisão.
Foi Nelson também, junto com seu irmão, o jornalista Mário Filho, que fez com que o hoje clássico Fla-Flu ganhasse prestígio na época.


2012: os cem anos do Anjo Pornográfico

Celebrando o centenário do escritor, o Itaú Cultural desde o dia 21 do mês passado exibe a Ocupação Nelson Rodrigues. A exposição tem entrada gratuita e visa a imersão no universo rodriguiano por parte do visitante. 

Com curadoria de Maria Lucia Rodrigues e Sonia Muller, filha e neta do escritor, essa nova edição do projeto Ocupação reconstrói a vida de Nelson por meio de três “temas”: Família, Jornal e Teatro.

Além de fotos, vídeos e frases – algumas até coladas no chão –, a mostra traz entrevistas, matérias e crônicas do autor, que podem ser lidas nos vários tablets dispostos nas gavetas das escrivaninhas, contrastando com as máquinas de datilografia usadas para compor o cenário.

A Ocupação Nelson Rodrigues pode ser visitada até o dia 29 de julho.




* A escritora Clarice Lispector é a responsável por uma das definições sobre Nelson que mais lhe agradavam: Nelson, você é um menino que vê o mundo pelo buraco da fechadura e se espanta!
* O jornalista Geneton Moraes Neto sobre Nelson Rodrigues: Hiperbólico, épico, exagerado, o homem é uma fábrica de tiradas dramáticas.


Serviço:
Ocupação Nelson Rodrigues
Data: 21 de junho até 29 de julho de 2012.
Horário: terça a sexta, das 9h às 20h; sábado, domingo e feriado, das 11h às 20h.
Local: Itaú Cultural.
End.: Avenida Paulista, 149 – Paraíso. 

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