Texto escrito para o blog TV Microondas.
Esse é um espaço idealizado por dois amantes da comunicação e dedicado a ela. E esta é uma coluna comandada por mim e sobre um assunto muito interessante (olha a imparcialidade!): teatro.
E, como num estalo, imbuído nas maiores confluências da vida, eu encontro a pessoa certeira para esse novo começo. Nelson Rodrigues tem três motivos, no mínimo, para aparecer por aqui.
Ei-los:
1) No dia 23 de agosto, com muita festa, comemora-se o centenário do dramaturgo.
2) Nelson foi um mix notável, daqueles que são produzidos com um grande espaço de tempo. Ótimo jornalista e um marco no teatro brasileiro.
3) Dica cultural para o final de semana: O “com muita festa” do primeiro tópico se refere às diversas comemorações e homenagens que surgirão, e já estão acontecendo, no país todo. Exemplo? Ocupação Nelson Rodrigues, no Itaú Cultural, da Av. Paulista.
Uma fábrica de tiradas dramáticas*
Nelson nasceu no Recife (PE), em 1912. Notabilizou-se como um dos maiores dramaturgos do Brasil e ficou muito conhecido por suas crônicas esportivas. Já ouviu falar do “complexo de vira-latas”?
Aos 4 anos de idade, junto com sua mãe e seus três irmãos, precisou se mudar para a cidade do Rio de Janeiro. O pai, Mário Rodrigues, começou a trabalhar no jornal Correio da Manhã e depois tornou-se dono do A Manhã. Nelson foi trabalhar com o pai e ficou na editoria de polícia durante muito tempo, onde desenvolveu um estilo único que se estabeleceria como sua marca inconfundível e invadiria suas crônicas tão “trágicas”. Dos tempos como repórter policial, acumulou um vasto conhecimento e senso de observação a respeito da sociedade em que vivia.
A Mulher sem Pecado foi sua primeira peça. No entanto, foi Vestido de Noiva que marcou a dramaturgia nacional e a vida de Nelson Rodrigues. Encenada pela primeira vez em 1943, pelo diretor polonês Zbigniew Ziembinski, Vestido Noiva simbolizou uma renovação nos palcos brasileiros e o início da modernização do teatro nacional. Nada de parecido havia sido feito até então.
Em 1944, publica Meu Destino é Pecar, n’O Jornal, sob o pseudônimo de Suzana Flag. A Vida como Ela É..., série de crônicas sobre a vida real, começa a ser publicada em 1951, no Última Hora, de Samuel Wainer, e permanece no jornal por dez anos. Em 1962, Nelson deixa transparecer sua paixão por futebol e começa a escrever crônicas esportivas. No entanto, Complexo de Vira-Latas, última crônica antes da estreia do Brasil na Copa de 1958, e que se tornaria um clássico, foi publicado na revista Manchete Esportiva em 31 de maio.
Dizem que Nelson era um cronista esportivo tão bom que nem precisava ver o jogo. Houve um episódio em que o escritor recebeu o jornalista Geneton Moraes Neto para uma entrevista na hora do jogo da seleção brasileira, sobre o qual iria escrever mais tarde, e pediu a sua esposa que desligasse a televisão.
Foi Nelson também, junto com seu irmão, o jornalista Mário Filho, que fez com que o hoje clássico Fla-Flu ganhasse prestígio na época.
2012: os cem anos do Anjo Pornográfico
Celebrando o centenário do escritor, o Itaú Cultural desde o dia 21 do mês passado exibe a Ocupação Nelson Rodrigues. A exposição tem entrada gratuita e visa a imersão no universo rodriguiano por parte do visitante.
Com curadoria de Maria Lucia Rodrigues e Sonia Muller, filha e neta do escritor, essa nova edição do projeto Ocupação reconstrói a vida de Nelson por meio de três “temas”: Família, Jornal e Teatro.
Além de fotos, vídeos e frases – algumas até coladas no chão –, a mostra traz entrevistas, matérias e crônicas do autor, que podem ser lidas nos vários tablets dispostos nas gavetas das escrivaninhas, contrastando com as máquinas de datilografia usadas para compor o cenário.
A Ocupação Nelson Rodrigues pode ser visitada até o dia 29 de julho.
* A escritora Clarice Lispector é a responsável por uma das definições sobre Nelson que mais lhe agradavam: Nelson, você é um menino que vê o mundo pelo buraco da fechadura e se espanta!
* O jornalista Geneton Moraes Neto sobre Nelson Rodrigues: Hiperbólico, épico, exagerado, o homem é uma fábrica de tiradas dramáticas.
Serviço:
Ocupação Nelson Rodrigues
Data: 21 de junho até 29 de julho de 2012.
Horário: terça a sexta, das 9h às 20h; sábado, domingo e feriado, das 11h às 20h.
Local: Itaú Cultural.
End.: Avenida Paulista, 149 – Paraíso.
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