sexta-feira, 10 de junho de 2011

Pedaço

Ela sabia que o momento era aquele. Há umas sete noites esse processo se repetia.
Deitava-se e imediatamente cobria-se com o edredom. Até a o topo da cabeça. Na verdade, chegava a levantar-se para passar a coberta por debaixo de seu corpo. Ou seja, além de ficar escondida, prendia-se.
O que faz uma pessoa se prender durante a noite? Não é durante o período do sono que você deve ficar mais livre? Para liberar tudo aquilo reprimido?
É que ela sabia do tempo preciso - e precioso. Aquele era o momento que já, há sete noites, vinha se repetindo. O momento do choro. Cobria-se, chorava. Automático. E eram lágrimas desesperadas. Pela quantidade e velocidade, era certeiro afirmar que estavam prontas a escorrer antes mesmo do ritual "deitar-se mais cobrir-se".
Ontem, a noite estava mais gelada do que o normal. Ela chegou a pensar que, de tanta dor, suas lágrimas estivessem preparadas para sair em formato de cubinhos de gelo. Mas era só impressão. O rio fluiu da mesma forma.

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Não estamos mais em 1968.