sexta-feira, 22 de abril de 2011

Agora Inês é morta!

"O senhor, que tem o rosto e o coração humanos, deveria ao menos compadecer-se destas criancinhas, seus netos, já que não se comove com a morte de uma mulher fraca e sem força, condenada somente por ter entregue o coração a quem soube conquistá-lo. (...)"

Inês de Castro, Os Lusíadas
Camões


Ontem fui assistir a uma peça no Teatro Ruth Escobar. Ele fica no bairro da Bela Vista, italianíssimo, que tem muita história legal para contar. Mais do que o bairro, as pessoas que vivem por ali. Cheio de cantinas e restaurantes bacanas, não sei ao fundo a sua história, mas parece que data de 1870 - para mais. E os imigrantes se sentiram muito bem acomodados no Bixiga, pois as ruas estreitas (de 60 palmos de largura) lembravam as aldeias italianas.
Enfim, já conhecia o bairro, claro, mas foi a minha primeira peça no Ruth Escobar! Sim! Foi significativo também porque a primeira peça de teatro que minha mãe viu em SP - ela é de Recife - foi lá. (Um monólogo com o Diogo Vilela.)

Não sei porquê decidi fazer esse post. Acho que era para falar da Inês. Rsrs.
A peça que vi foi Inês de Castro, até o fim do mundo, do Grupo Dragão 7. Bacana! Não vou falar da peça (oi, Milena, posso parar de ler o post então?). Ontem, na volta, minha mãe disse que eu e meu pai somos muito críticos. É que nós comentamos luz, figurino, cenografia, atuação, sonoplastia etc. Impossível! Depois de falar do espetáculo como um todo, partimos para os pormenores - adoro essa parte! Aliás, trairia meu costume e instinto de observação...
No geral, a peça é boa.

Ok, o post não é para falar do bairro, do teatro e nem da peça. Sobre o que eu quero conversar, afinal?
Ah, "Acho que era para falar da Inês. Rsrs." [2]

Então, em Os Lusíadas, Inês é um episódio lírico-amoroso que representa a força e a veemência do amor em Portugual. Camões - na voz de Vasco da Gama - relata o assassinato da bastarda pelos capangas - ou ministros, rs - do rei D. Afonso IV. O rei decidiu matá-la por causa do seu envolvimento amoroso com D. Pedro.
Inês ainda tenta dissuadir o rei - trecho no início do post é dessa hora -, mas ele não muda de opinião, embora hesite por um instante.
Depois de morta, D. Pedro decide coroá-la. Dizem que ele mandou vesti-la com roupas nupciais, e mandou todos os nobres beijar-lhe as mãos. Essa é a razão de ela ser "a rainha depois de morta".

A Inês da peça estava mais para uma Julieta. Talvez porque eu não a veja tão "menininha" assim - apesar da personagem shakesperiana também não o ser. Galega, linda, vejo uma Inês forte e pronta para aceitar o seu destino traçado. Na peça, ela só sabia, mas não estava pronta. Não que tenhamos de estar sempre prontos para enfrentar a morte, claro. Mas a Inês que vejo se assemelha mais com uma heroína.
Quando ela se ajoelha diante de D. Afonso IV - maldito! -, no fundo, não é para dissuadí-lo. Mas para proclamar mais uma vez o seu amor por D. Pedro, para lembrá-lo de que ele - o rei - tem netos, que neles correm o sangue real português, para mostrar sua força e, principalmente, simplicidade. Ao contrário do que falavam, Inês nunca desejou o posto de rainha. Ela queria ser feliz ao lado do homem que amava. Só isso.

Inês com Pedro / Na hora de sua morte / Coroada e reverenciada



Sexta-feira, 22 de abril - 11h46
MB

Um comentário:

Não estamos mais em 1968.