domingo, 4 de abril de 2010

Loucura obstinada


Ela é o que diferencia a Lady de Ismália.
Uma enlouqueceu através da raiva, enlouqueceu de dor, vingança, amor morto. Pior. Matou o amor, sugou sua essência, provou da maravilha adoecida, por fim, engoliu. Da impotência de transformá-lo em algo bom – o organismo já estava podre -, o descartou de forma brutal. Para ela o amor não tinha valor, e o amor doente não merecia ser tratado. Pode-se curá-lo, ela bem sabia, suportando o seu ardor e ele lhe recompensará.
Porém, o horror a chamava. Ainda há uma mancha.
A mancha interna toma conta de seu corpo e o amor feio ao chão é pisado. Ela se degenera, o amor não.
Aquele desperdiçado, amor mal amado, amor doentio, amor esmagado, o amor impossibilitado, desliza agora no corpo de Ismália. Uma água sedenta querendo fogo.
Ismália querendo a lua do mar. É tão fácil, pense.
À noite estrelada, sem forças, desesperada, é desnecessário tentar alcançar o céu através da mão amiga.
Olhe ao mar. Verás a mesma lua erótica, a mão (amiga) é outra.
O vento é capaz de fazer muito mais que levantar cabelos e perfumar as caminhadas primaveris. Este Zéfiro poderoso e o amor sedento apossam-se de seu corpo. Ismália depressiva sente-se extasiada, ébria...
Ah, procurava tanto, a menina, algo para alimentar o vazio.
O amor coitado, por sua vez, de nada encontra no corpo esguio da musa em desespero.
Ismália quer a lua, só. Amor humilhado é mais poderoso que loucura de moça depressiva. Despercebido e já incapaz de cumprir a sua ação natural, o amor junta-se ao vento. Ismália, inocente e ingênua, complementa o trio.
O sopro externo, o (não) amor e a menina angustiada vão traçando o ato final.
Lá vai Ismália, com toda sua musicalidade, de encontro à lua do mar. Na ponta do cume, como em um clímax cheio de hipocrisia, a leviana ergue os olhos em direção ao céu: as estrelas miudinhas apenas a observam. Advertindo-a?
A lua do mar chama Ismália. Pela primeira vez, a garota sente-se amada. Um sopro e um passo.

Quando Ismália enlouqueceu...

O amor humilhado não morreu. Agora vingado, não sendo mais amor, tornou-se ódio. Assim, retorna ao seu querido fardo: a Lady degenerada.
Ismália, ingênua e ambiciosa, agora possui a sua lua. A capacidade de amar, entretanto ainda não lhe é concedida. Nem será.
Aquela outra bem havia me confidenciado que sabemos o que somos, mas não o que podemos ser.


(Divagações - Milena Buarque)

8 comentários:

  1. Oiii, legal o texto ... interessante teu blog! (:

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  2. Vc eh meu maior orgulho, Mi.
    Minha Tê...

    Texto belíssimo.

    Amo,
    Bjo!

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  3. Vlw pela visita LInda, to te seguindoooO (:

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  4. adorei,passa no meu blog também,se quiser :)

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  5. confesso que não li o post todo mas achei o tema interessante :D tô seguindo o blog!

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  6. ola mocinha!!
    vi seu comentario no meu blog e resolvi fuçar aqui o teu
    temos coisas boas aqui hein?
    humor inteligente sensibilidade
    vamos formar uma parceria no futuro quem sabe?
    rsss
    we've got the power my friend!!!
    rsss
    i love it!!

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  7. Adorei o texto, lindoo!
    Parabéns!

    Beeijos

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