quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Eu viajo sozinha desde os quatro anos. É claro que estou falando das minhas idas a Recife, onde sempre tive a maior parte da minha família me esperando. No entanto, com cinco anos, eu me lembro de estar numa conexão no aeroporto de Salvador, vendo o grupo 'É o Tchan' passar - e não é pelo fato das músicas terem embalado o Brasil dos anos 90 que a memória persiste até hoje. Eu me lembro disso porque estava acompanhada de uma aeromoça, que, tão extasiada quanto eu, quase se esqueceu de me levar de volta para o próximo voo. Enquanto víamos a Scheila Carvalho, eu escutei chamarem os números que estavam no saquinho pendurado em meu pescoço. Virei para ela e perguntei se não estava na hora de ir embora.

Quando me perguntam sobre momentos marcantes, eventos que delinearam um pouco do que sou hoje, eu digo, entre outras coisas, que foram as viagens sozinha. A saudade dos pais, e a não saudade dos pais, a eterna vontade de estar em meu quarto, a contínua familiarização com espaços novos, a consciência de que tudo se prende a um tempo delimitado (as férias), a aceitação da espera, a contenção de expectativas. Desde muito nova criei tradições, aprendi que elas um dia seriam quebradas (pela faculdade ou por um emprego novo) e aceitei que passaria a viajar de outra forma. 

Lembro-me das conversas que eu costumava a ter com a minha avó, onde dizia que nunca deixaria de ir a Recife nas férias, jamais deixaria de passar dois meses inteirinhos - me sentiria uma traidora se o fizesse. Hoje, eu me equilibro em quinze dias, muitas vezes espaçados durante o ano. Entretanto, como apontado no texto da Amanda, com base na pesquisa do Booking.com, as redes sociais nos ajudam muito. Ainda me lembro de cartinhas que minha mãe mandava por fax ou de aguardar a madrugada para entrar na internet e ver um e-mail dos meus pais. (É engraçado, pois na minha última viagem um dos ônibus tinha wifi e pude falar com meu pai por skype (áudio e imagem) a qualquer momento que eu quisesse e em ótima resolução.) Todos os valores persistem. E, se eu posso colocar mais um fato na conta das minhas viagens como 'menor desacompanhado', eu, claramente, associo o meu vício por viajar. Aliás, viajar de qualquer forma, viajar na caneta, no livro, nos sabores (há um creme dental que me leva para o Recife dos meus seis anos de idade até hoje). Eu me torno incrivelmente feliz toda vez que retorno, mais inspirada, alegre por voltar, ansiosa para ver o que mudou na cidade e sem querer viajar tão cedo. São duas semanas até o ‘tão cedo’ passar e eu começar a anotar os próximos destinos numa folha - e menos de um mês para que eu encha os amigos com a fatídica frase 'queria viajar de novo'. Mas é o tempo da espera.

O texto abaixo - que também pode ser lido sem o recorte de gênero, pois eu acho que se lançar ao mundo deixa qualquer pessoa mais autoconfiante e inspirada - por focar nas mulheres sozinhas que viajam me lembrou 'n' acontecimentos do meu último passeio ao Uruguai. Receber conselhos de dias e horários preferíveis para caminhar no centro, escutar 'brasil, brasil, oh!’ DIVERSAS vezes de homens asquerosos, receber ''''cantada'''' de policial (isso! pois é!), calcular se é melhor pegar o ônibus ou o táxi... Uma infinidade de situações que tornam o ter de lidar sozinha, da falta de dinheiro a mudanças de planos às compras do mercado ao entender o funcionamento do chuveiro, uma diversão viciante.

 - http://viagem.estadao.com.br/…/mulheres-que-viajam-sozinha…/

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