domingo, 28 de dezembro de 2014

Lendo "Trótski - exílio e assassinato de um revolucionário", de Bertrand M. Patenaude

Para os dias atuais, algumas situações no México de 1937-40 podem mostrar que nem tudo é tão simples, fácil e coerente (?) para ser enquadrado em azul ou vermelho.

- Cárdenas concedeu asilo a Trótski, por um pedido-amigo de Diego Rivera, muralista comunista, que 'virou' trotskista e depois stalinista. Rivera rompeu com Trótski - ou Lev Davidovich rompeu com Diego - porque resolveu defender um muralista que estava sendo censurado por sua arte antinazista. Rivera esperava o óbvio apoio do amigo na causa. Naquela época, o México estava dependendo da Alemanha para a compra de seus barris de petróleo. O revolucionário resolveu não arriscar o seu asilo no jogo.

- Amigos americanos de Trótski distanciaram-se do mestre por esperar sua atitude de repulsa à invasão alemã e soviética da Polônia e a pressão feita na Finlândia. Trótski, perseguido por Stálin, defendeu que, como a única nação proletária do mundo, as atitudes da URSS não deveriam ser condenadas (e também, ao que parece, livrou-as de julgamento).

- Os dissidentes americanos saíram do partido e ficaram conhecidos como a "Minoria" (novos mencheviques?). Trótski, decepcionado com a "traição" e "ingratidão", os chamou de "pequeno-burgueses", justamente a forma como Stálin usava para desqualificar a sua luta (sua origem elitista, seus gostos refinados e a preservação pela arte tradicional o colocavam abaixo do camponês Iossif Vissarionovitch).

- Por questões financeiras, Trótski aceitou o pedido de uma editora para escrever uma biografia de Stálin. Seguindo os bons preceitos jornalísticos, não queria que a obra resultasse enviesada ("""ïmparcialidade"""). Com afinco, escreveu longos capítulos, com base em extensas pesquisas sobre a vida de Stálin. Nos dois últimos, cansado, encurtou o fim e deu vazão ao que de fato queria falar.

- Em 1940, "Manuel Ávila Camacho [ministro da Defesa de Cárdenas] era um candidato de centro-direita que concorria com o apoio da esquerda, inclusive os comunistas e os sindicatos de Lombardo Toledano". Camacho era do partido de Cárdenas, que concedeu asilo a Trótski.

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