quarta-feira, 9 de julho de 2014

Do que eu vivi no metrô, de como a zoeira não tem limites ou da hermana Argentina

Hoje eu vivi um dos momentos mais especiais, que realmente evidencia o que é ter uma Copa no Brasil para mim.

Pegar metrô na República, linha 3-vermelha, é já se antecipar no pensamento do que vem adiante: Anhangabaú, Fan Fest e argentinos. Sentada, com um banco vago ao meu lado, eu só fiz esperar. Mais de dez argentinos entraram. Felizes e prontos para a zoação, ouço da moça ao meu lado “Shiu! Ella es brasileña”. Mostro o desenho da Mafalda no meu moletom, acompanho os olhares extasiados, e completo: “Me gusta mucho la Argentina. Pero estoy triste, por favor”.

Com a promessa de que cantaria apenas quando chegasse a minha hora de descer (estação Carrão), o hermano colocou a bandeira nos meus ombros e pediu para tirar uma foto. As mulheres acompanharam a cena com certo receio; eu só fiz dar risada – e tirei uma foto para mim também. 
Era óbvio que, após vencer a Holanda, após a surra do Brasil ontem, o companheiro não iria esperar mais seis estações para celebrar. Ele simplesmente pendurou sua bandeira nos ferros do metrô e começou a cantoria.

Neste meio tempo, respondi ao que todos queriam saber, se eu tinha algum parente argentino. Conversei sobre meu TCC, sobre Buenos Aires, sobre a minha paixão por qualquer coisa que esteja relacionada à América Latina. Perguntei se estavam gostando do Brasil: elogiaram as pessoas, as ruas, o metrô, Itaquera, as padarias (?) e a avenida Paulista. Disseram-me que estavam a caminho do Rio de Janeiro, mas que não queriam sair de São Paulo e de perto de Itaquera.

Levantei-me. Alguns brasileiros começaram a gritar “CHI CHI CHI! LE LE LE!”. Os argentinos riram, debocharam. Juntei-me à turma, e começamos a cantar o hino do Corinthians. O companheiro riu para mim e perguntou o que eu estava falando. CORINTHIANS! Riram, não gargalharam e ficaram sem reação. 
A cena voltou a se repetir algumas vezes até o Carrão. E várias palmas quando cada um terminava de cantar. 

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E acho que este cotidiano que vai me fazer sentir falta da Copa. Quem pensa que a Copa está só nas partidas não está sabendo de nada. O intercâmbio cultural é tão incrível que eu fico triste só de pensar no fim. Não vou me esquecer do adolescente empinando pipa na hora do jogo do Brasil (!), que poderia ter me rendido uma matéria – ou ao menos uma boa conversa. Não vou me esquecer do catador de papelão, trabalhando na hora da partida, mas com o jogo sendo transmitido pelo celular. Não vou me esquecer das tantas fotos que tirei com argentinos toda vez que decidia sair de Mafalda.

Aliás, o companheiro que havia prometido o silêncio, quando me viu entoar o hino do Corinthians, completou a cena com um “estás mismo aburrida, no? Mas eu entendo... 7 não é para qualquer um”.

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