quinta-feira, 19 de junho de 2014

O que é mais incrível em "Minha vida de terrorista", de Carlos Knapp, é a honestidade que se tem com relação ao que as coisas são - e ao que o ser humano é. Knapp, que integrava o grupo de apoio da ALN e foi um dos publicitários mais reconhecidos da época, diz que desde o início sabia que pendia para um lado da coisa, que não se contentaria em "ficar omisso". No entanto, quando um guerrilheiro aparece ferido em sua casa, e transforma toda a sua vida impondo uma fuga às pressas, Carlos lamenta os resultados de sua escolha: lamenta ter de deixar os quatro filhos, o convívio com a ex-mulher e até a perda de uma vida abastada e tranquila como parte da elite paulistana. Sem rodeios.
E isso faz de Knapp, enquanto personagem de uma narrativa extasiante, algo crível. 
O livro é uma intensa viagem: Algéria (e ele explica a razão da grafia original) dos anos 1960, com Niemeyer, Miguel Arraes, Jô Araújo (Frei Chico) e tantos outros militantes brasileiros que por ali ficaram; Alemanha; França; Espanha; Argentina; Uruguai, Paraguai; Peru; Holanda; Portugal; Itália; Inglaterra; Chile; e Estados Unidos.
Knapp, já com passaporte de Henrique Rossman, ao contrário do que diz o título do livro, não é terrorista: nem sequer guerrilheiro ou militante. Sua história não é de exaltações à ação armada - e nem de condenações. Carlos foi parar nos cartazes dos perigosos procurados, participou de expropriações de bancos, abrigou Marighella em sua casa, mas se negou a ir para Cuba quando lhe foi proposto o exílio. Tinha medo de uma viagem sem volta, de que aquilo que lhe era vendido como um sonho fosse na verdade um tremendo de um pesadelo. 
Não se negou àqueles em quem acreditava, sabia que estar longe dos filhos não era o pior dos dramas da humanidade na época, mas se esforçou para criar novamente o cotidiano de casa e trabalho. E não escondeu isso em momento algum.

Quando sua companheira Eliane voltou de Cuba, totalmente transformada, se assustou ao saber que ali, naquele país utópico, ainda era necessário o uso do dinheiro. Havia algo de errado?

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