terça-feira, 11 de junho de 2013

Das dúvidas e perguntas?

[Reflexão sobre um semestre da disciplina de Jornalismo Literário]


Coletiva de peça de teatro. Lançamento de livro. Cobertura de musical. O jornalista tem mesmo de saber e se dispor a entender de tudo? As editorias segmentaram os assuntos de um jornal, encadernaram as estórias e as separaram por capítulos. Por que, então, o jornalista pode ser médico, economista e jogador de futebol? O próprio Joelmir Beting (1936 – 2012), quando trabalhava no jornal "Folha de S. Paulo", nos anos 1970, foi colocado na editoria de Economia, já que era capaz de “escrever de forma fácil” na área de Esportes. Beting foi um grande desmistificador de inflação, commodities, cortes orçamentários e superávit. Então, ele era um economista que jogava futebol muito bem?

O que acontece se um coleguinha for monotemático? Nunca disfarcei a minha predileção pelo lado cultural do mundo. Por fazer teatro, e ser amiga dos livros e gibis da Turma da Mônica desde muito cedo, os meus assuntos preferidos em matérias de jornais-laboratório, por exemplo, sempre foram relacionados a Jornalismo Cultural. Na disciplina de Jornalismo Literário do sexto semestre, confirmei a minha paixão pela editoria – e me preocupei.

Será que eu só consigo falar sobre o que gosto? Seria isso um problema, uma limitação? A verdade é que, se não estou comentando sobre estreias de filmes, lançamentos de livros e novas exposições na cidade, falo sobre política nacional e internacional. Não me sinto apta a palpitar sobre a projeção para o PIB de 2014 ou a falta cobrada erroneamente no jogo da noite de ontem. E agora?  Não que eu me considere uma Ananda Apple. Leio sobre tudo, tenho a fome por conhecimento que sempre ouvi como imprescindível a um pequeno foca. No entanto, encontro-me com os mesmos assuntos, porque os procuro com prazer. Em tempo, nem os busco por aí: sinto-os caindo em minhas mãos.

Gay Talese, Eliane Brum, Truman Capote, John Hersey, John Reed e João do Rio. Aliás, este, o autor do célebre texto sobre a tatuagem, se especializou em crônicas ambientadas em cenários cariocas. Por outro lado, se eu busco matérias mais humanas, a vida que ninguém vê, que abordem determinados temas sob outro ângulo, posso ir atrás de Eliane, que já se firmou pelas características específicas de seus textos. Leonardo Sakamoto, por outro lado, propõe reflexões com suas pitadas de acidez e ironia.

Se, como diz Ricardo Kotscho, jornalismo é a arte de sujar os sapatos, eu vou seguir sujando minhas sapatilhas pelos meus caminhos. Decidi ser jornalista aos sete anos de idade, quando me deparei com o cabelo ruivo e enrolado de Leilane Neubarth no telejornal “Bom Dia Brasil”, da Rede Globo. Nesse meio tempo, descobri que o meu universo particular era o da escrita. Diziam que a faculdade iria nos mostrar uma miríade de assuntos e formas de jornalismo que nos fariam trocar de ideias, opiniões e gostos. Apesar de comunicativa, eu continuo preferindo o papel às câmeras. Apesar de buscar a pluralidade, fale-me para escrever sorrindo que eu escolherei qualquer tópico relacionado a filmes e artistas plásticos, palestras e orquestras, intervenções urbanas e viagens. Caminhando pelos textos do semestre, me dei conta mais uma vez do meu vício, minha futura morada, tive medo, mas reafirmei os meus votos.

Um comentário:

  1. Certa vez, numa aula de Jornalismo de Cinema com o Rizzo, ele disse algo que nunca vou esquecer: almeja o topo da montanha e chegarás pelo menos até a metade dela; almeja o meio da montanha e não sairás do chão. A gente precisa ter um foco. Saber de tudo um pouco é importante pra nossa formação, pra nossa vida e pra entender o mundo ao nosso redor, mas não tem nada como escrever com gosto, com prazer, querendo pesquisar e saber de tudo! Ter um direcionamento, querendo ou não, é importante. Saber das nossas próprias afinidades é maravilhoso!

    Adorei os textos por aqui, vou continuar acompanhando.
    Beijos,
    Suzanne

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