terça-feira, 28 de maio de 2013

Michael está vivo

O Rei do Pop, morto em agosto de 2009, revive ao som de Billie Jean

Com camisa xadrez, óculos de sol Ray-Ban, e acompanhado por dois amigos, ele se dirige ao segurança que guarda a porta de entrada para a arquibancada e parece perguntar se ao entrar, ainda é possível sair. O lugar é o Credicard Hall, que fica na zona sul de São Paulo, o relógio marca 16h30 do sábado que antecede o domingo de Dia das Mães e o sol está a pino, esquentando os miolos de todos. Nem o espelho d’água circular, posicionado na entrada da casa de shows, alivia a quentura da tarde. Alison, de nome americano que serve tanto para homem quanto para mulher, quer saber se pode entrar para fugir do sol.

Às 17h30 está marcado para começar o terceiro dia da “Thriller Live Brasil Tour” em São Paulo. A turnê, que já passou por 23 países, é uma homenagem ao cantor Michael Jackson. No Brasil desde fevereiro, “Thriller Live” fez sua primeira apresentação para o público paulistano na quinta-feira, dia 09.

Alison diz que viu alguns vídeos da seletiva no YouTube e questiona se são quatro garotos que irão fazer o papel do Rei do Pop ainda quando criança. A garota que os acompanha responde e complementa a informação: afirma ter visto uma reportagem no canal a cabo Globo News sobre o processo de seleção. Serão quatro mini-Michaels, para fazer o cantor na época do ‘The Jackson 5’, sem contar os outros brasileiros também escolhidos para o musical. O trio vai atrás dos seus lugares na arquibancada, antes passando pela lanchonete. O terceiro amigo comenta que qualquer coisa, do saco de pipoca ao chocolate, é cara no Credicard Hall. Um cachorro-quente (pão, salsicha e batata palha), por exemplo, sai por R$8.

O show conta com 50 artistas internacionais, entre cantores, músicos, dançarinos e técnicos. A cenografia e o figurino também são os oficiais da produção. Para o papel de Michael-criança, foram selecionados quatro meninos que se revezam de quinta a domingo. A amiga de Alison comenta que ele está com sorte, pois veio assistir ao show bem no dia de Pedro Henrique, o menino que ele havia gostado ao ver no vídeo na internet. Além de Isacque Lopes, Felipe Adetokunbo, Diego Jimenez e Pedro, alguns brasileiros foram chamados, como um dos cantores – e narrador em alguns momentos – e Leilah Moreno, que faz parte do time das backing vocals. They say the sky's the limit, and to me that's really true.

A trajetória de Michael Joseph Jackson é contada através de seus maiores sucessos. Uma das novidades de “Thriller Live” no Brasil é a adição da música “Human Nature” no repertório. Em entrevistas, o diretor e coreógrafo Gary Lloyd disse que a decisão de incluir a faixa já estava sendo avaliada pela produção. Segundo Lloyd, por ser muito popular no país, a canção foi incluída no setlist.
Com duas horas e meia de duração, o espetáculo é dividido em dois atos, com 15 minutos de intervalo entre eles. São sucessos da carreira do cantor, que vão desde as canções da época do ‘Jackson 5’, grupo do qual era integrante com seus irmãos, até mais de 30 músicas, como "Thriller", "Beat it", "Billie Jean", "Bad", "Dangerous", "Black or White" e outros.

Alison, que tem um corpo esguio, faz uns passinhos inspirados em Michael, antes de entrar no espaço da arquibancada. Olhando para baixo, observa o pessoal próximo ao palco e diz que, se estivesse lá, não conseguiria ficar sentado. O espetáculo começa com um vídeo cheio de imagens e frases que evidenciam a grandiosidade do astro – tudo acompanhado por uma música instrumental de fim de épico norte-americano. O letreiro diz que é o maior artista de todos os tempos, o cantor mais baixado da internet e que ultrapassou o extraordinário número de 1 bilhão de discos vendidos, só para ficar em alguns dados. Quando o Rei do Pop entra no palco, ele diz just beat it (apenas caia fora) a qualquer outro.

O primeiro ato abre com a clássica “ABC” e uma incrível caracterização de Pedro Henrique, com seus agudos, e dos outros irmãos. Alison se emociona e diz que parece ter viajado no tempo. Michael, em Pedro, lembra how easy love can be. “The Love You Save”, “I Want You Back” e “I’ll Be There” dão continuidade ao show. O primeiro round termina com o balancinho melodioso de “Rock With You”, “Never Can Say Goodbye”, “Don’t Stop Til’ Get Enough” e a pegada sexy de “Can You Feel It”. Os 15 minutos de intervalo indicam que a segunda parte do espetáculo será exatamente o que todos esperam: uma sucessão dos maiores sucessos do cantor. Afinal, os três Bs, “Bad”, “Black or White” e “Beat It”, por exemplo, ainda não deram as caras. (E excluindo “Billie Jean”, que seria um quarto B, propositadamente.)

Os três amigos permanecem sentados na fileira E, cadeiras 207, 209 e 211, do lado direito da arquibancada – vista de quem olha do palco. O clima se divide em êxtase, expectativa e emoção. Um comenta que tudo aquilo era incrível, a outra diz que era o Michael quem estava ali no “The Jackson 5” e Alison apenas concorda com a cabeça. Piscam-se os olhos e os 15 minutos se encerram. Ninguém levantou da cadeira.

No segundo ato, “Wanna Be Starting Something”, “Dancing Machine”, “P.Y.T.” e “Beat It” agitam o público. Com capacidade para sete mil pessoas, a chamada pista – mas com cadeiras – não estava cheia em sua totalidade, os dois camarotes com sofás estavam vazios e as arquibancadas, lotadas. Seria em razão do preço mais modesto? 

Antes de “Dirty Diana” e “Man in the Mirror”, “Smooth Criminal” e “Dangerous” levaram o Credicard Hall ao delírio. Com cenografia impressionante, uma sala de interrogatório foi trazida ao palco. Um Michael, de terno branco, se destaca pelos passos e começa a contar a história. Pergunta se Annie está bem (Annie, are you ok?) e diz que ela foi golpeada por um criminoso ardiloso (you've been struck by a smooth criminal). 

Em “Dangerous”, a voz sussurrante de Michael nos conta que uma garota levou todo seu dinheiro, jogou seu tempo fora e que não é o bastante para ele (take away my money, throw away my time. You can call me honey, but your no damn good for me). Por fim, ele adverte: the girl is bad, the girl is dangerous. Os bailarinos entram, pedem para o público se levantar e todos começam a dançar.
Com vídeo gravado em uma favela do Rio de Janeiro, “They Don’t Care About Us” inicia, e todos entram vestidos de branco e tocando tambores do Olodum. Mas o ápice fica mesmo com “Billie Jean”. No palco, apenas um Michael, cantando e dançando. Nenhum outro dançarino. O foco fica apenas no cantor, que supostamente morreu em 2009. No entanto, o quarto B deixa o público boquiaberto. A sensação é de que o Rei do Pop está vivo.

Chega a hora da esperada “Thriller”, que dá nome ao musical. A reprodução do clipe é minuciosa nos figurinos do casal de namorados. Com a lua cheia, e o beijo romântico, uma porção de zumbis sobe ao palco e a famigerada coreografia leva o público novamente ao delírio. Entretanto, quando a plateia acredita ser o fim, ainda há “Bad”. 

Com a saída dos monstros do palco, o mini-Michael do início aparece novamente e  pergunta a todos se eles querem mais, através de mensagem de texto projetada no telão em português. O público responde com um “sim” em meio a aplausos, gritos e sons praticamente indefinidos. Pedro Henrique sorri e pergunta mais uma vez. Silêncio. Ele se dirige ao fundo do palco e picha na parede a palavra BAD.
“Black or White” fecha o espetáculo. Os dançarinos e cantores agradecem diversas vezes ao som de “Smooth Criminal” e “Thriller”, seguindo a lógica esperada.

A produção de “Thriller Live Brasil Tour”, idealizado por Adrian Grant, autor da biografia e amigo de Michael Jackson, já tinha contado com o aval do próprio cantor. Com a mais absoluta certeza, ele iria se emocionar se pudesse assistir à homenagem. Then every head turned with eyes that dreamed of being the one.


Serviço:
Quando: de 9 de maio a 23 de junho de 2013
Onde: Credicard Hall (Avenida das Nações Unidas, 17955 - Santo Amaro)
Quanto: de R$ 50 a R$ 200

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