sexta-feira, 26 de abril de 2013

Por favor, um copo de amor

Todos os dias, há umas semanas, eu encontro um amigo muito pontual, sempre no mesmo lugar, para conversarmos sobre a minha vida e sobre a vida dele (confesso ter sido um pouco "espaçosa" e ocupado mais o tempo dele com as minhas indagações). Esses encontros têm sido renovadores, desde o seu segundo dia. Ele não é psicólogo, mas bem que poderia ser. Acredito que agora eu me conheça mais, assim como também tenho conseguido aprofundar algumas questões a fim de encontrar respostas coerentes - mesmo que temporárias.

A verdade é que, com o passar dos dias, atingimos a fase do filosofar. Ainda falamos sobre questões pontuais nossas, mas ontem, por exemplo, divagamos pelos caminhos e meandros do amor. Com o objetivo de não me esquecer de alguns tópicos falados, tentarei relatar aqui o que ainda está em minha cabeça.

- Diante do meu desespero, ele me perguntou: "Milena, por que você acha que existe o amor?" No qual eu respondi: "para nós vivermos. A vida não existe sem o amor".
Silêncio. Ele me disse que, do ponto de vista meramente biológico, o amor existe para nos reproduzirmos. Vários hormônios indicando aquela pessoa como "A" pessoa. Pausa. Virei para ele, indignada, e disse: "é claro que eu não paro, olho para a pessoa e penso 'uou! Você seria a pessoa certa para eu me reproduzir!'". Demos risadas.

- Constatei que a minha decepção é maior do que se pensa. Na verdade, ela é diferente. Não estou decepcionada com o que aconteceu: estou decepcionada com o amor. Eu o idealizo demais. Descobri que amar por si só não basta e ações são importantes também. Na minha cabeça de romances de Jane Austen, o gostar deveria ser maior que o estar junto. "Eu te amo para a toda a vida." Mas não é assim que as coisas funcionam. E minha concepção do amor começa a mudar.

- "O amor acaba?" Eu fiz essa pergunta a ele. Rebatida com "você acha que passamos a vida inteira amando a mesma pessoa?". Não terminamos este assunto, já estava na hora da aula. Mas, sinceramente, eu gostaria que funcionasse assim. Terei outra decepção? Não sei. Ainda tenho a convicção de que posso encontrar alguém para amar a vida toda. Estou ficando um tanto confusa nas minhas crenças.

- Até o Romeu enfrentou o mundo para ficar com a Julieta. Isto é a prova de que o amor precisa de ações. E um detalhe: o Romeu enfrentou pai & mãe, o que é a coisa mais difícil desse mundo. Esta, aliás, seria a única barreira realmente complicada e até intransponível - em alguns casos. De resto, tudo é superado para os que se amam. (Talvez eu não esteja tão desiludida assim.)

- Estávamos discutindo sobre o "querer saber se o outro está bem depois de tudo". Não entrarei muito em detalhes. Aí ele fez uma analogia engraçada para mim, um tanto quanto almodovariana, que me fez viajar e dar boas risadas. A pessoa enfia uma faca no peito da outra e pergunta se "está precisando de algo?" ou "está tudo bem com você?". 

- Na minha cabeça, eu consegui separar mais ou menos assim: da primeira vez foi um corte, que jorrou muito sangue e eu fiquei sentada em meio a tudo, aterrorizada com o chão tingido de vermelho; agora foi mais sério, uma faca não cortou, se alojou no meu peito profundamente. No entanto, não há sangue. Ou eu que estou limpando tudo rapidamente.

- Perguntei se a gente precisa perder para perceber que errou. Ele me disse que há algumas pessoas que conseguem perceber antes de realmente perder. No entanto, a gente sabe que a maioria só se dá conta quando não tem mais. Até o Frei Betto diz isso. Quando eu estou com esse meu amigo, ou "filosofando" com outros, sempre acabo fazendo perguntas elementares como um "por que?" ou perguntas que ninguém vai saber a resposta. Só preciso me questionar novamente. Em voz alta.

- Com essa conversa, meu amigo notou que, acima de tudo, eu amo o amor. Até contei para ele da minha visão no passado. Falei da Inês Pedrosa e do "amar em abstrato". Ele comentou que a maioria não ama o amor. Concordo com ele. Tudo se perde facilmente hoje. As pessoas terminam e terminam e se casam e terminam e namoram e terminam. Eu, entretanto, prefiro que meu próximo seja meu último. Who will be the next?

- Por fim, meu amigo refletiu sobre o que eu disse, pensou na minha visão do amor, no que ele falou e mudou de opinião. Recebi um sms que começa assim:
Meu, queria te falar uma coisa... Realmente o amor se justifica em si mesmo, realmente amar eh verbo intransitivo (...). Viu?! Estou ficando melhor que Padre Antônio Vieira! ;D


''-- Drummond me questiona se eu sou uma desiludida do amor, se eu estou desfechando tiros no peito e se eu estou me torcendo de gozo.
R: Olhe, meu coração é, sim, cheio de poesia. Mas constato que não sou uma desiludida do amor. Bom, tivemos uma pequena rusga. No entanto, já estamos nos entendendo. O tempo pode ficar nebuloso, acompanhado de um ruído ensurdecedor, mas nada muda a pequena Milena.

4 comentários:

  1. Milena, parabéns pelo texto... Mantenha suas convicções e intuição sobre o amor...
    O sujeito fala de amor do ponto de vista biológico, ou seja, ato sexual... O sexo não é amor, se associado, pode ser um ato decorrente do amor...
    O amor compreende tudo e, se compreende tudo, não pode ser compreendido...
    Gostaria de estar conversando isso em inglês com você...
    Saudades,
    Jorge L. Romano

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  2. O que é o amor senão a capacidade de abraçar o infinito? Acreditar não é ser ingênuo, muito pelo contrário requer uma coragem heroica e por vezes dolorida. Acreditar nesse "um dia" é buscar o sentido para permanecer vivo.

    parabéns pelo texto.

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  3. Sim. Você continua sempre a mesma desde que te conheci.

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    1. e você continua o mesmo psicopata de sempre.

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