sábado, 13 de abril de 2013

“Aldeia do Silêncio” trata das relações das pessoas com o tempo

Novo romance mais meditativo de Frei Betto se propõe a falar sobre o nada


“É preciso viver mergulhado no silêncio para encontrar a resposta”. A sugestão é do autor da narrativa autobiográfica “Aldeia do Silêncio”. Romance autobiográfico de Frei Betto? Não. O que se sabe do narrador é que era conhecido apenas como Nemo (em latim, ninguém) antes de falecer no hospital onde ficou por dezessete anos. 
“Aldeia do Silêncio”, da editora Rocco, é o 56º livro de Frei Betto, entre romances, contos e obras infanto-juvenis. Autor do consagrado “Batismo de Sangue”, ganhador do Prêmio Jabuti de “Melhor Livro de Memórias”, que conta a história da participação dos frades dominicanos nos anos de chumbo, Frei Betto traz em seu novo romance algo mais meditativo, que se propõe a falar do nada e do tempo. 

Em bate-papo com Claudiney Ferreira, responsável pela área de literatura do espaço, o autor contou que a ideia do livro surgiu enquanto viajava do Panamá a Quito (Equador). Ao observar cinco pessoas em uma mesa, cada uma com seu celular, em silêncio, começou a refletir sobre os tempos atuais e nossa própria relação com este tempo. “Aldeia do Silêncio” conta a história de um homem que vive com sua mãe, seu avô e dois animais: uma cadela e um urubu. Estes personagens estão longe do escravismo do tempo, por viverem num lugar distante das grandes cidades. Segundo Frei Betto, existem três dimensões dentro de nós. “A razão, a imaginação e a contemplação. Então, o livro tem pouca razão, [ela] aparece quando o personagem se transfere do campo para a cidade. Aí que ele entra no mundo da razão.”

O aspecto da imaginação, por outro lado, se dá pela vivência destas personagens em um lugar ermo e solitário. Portanto, tudo é imaginado. “O avô [da história] achava que aquele brilho que a gente vê no céu à noite é porque o céu é todo furadinho. Então, tem outros universos que refletem nesse furadinho. Por isso que a gente vê o brilho. (...) O céu é todo cheio de cristais.” Ao dominar a razão e a fantasia, se entra em um estado de êxtase, ou da contemplação. 

“Aldeia do Silêncio” é um livro que está na contramão do mundo acelerado. “Me preocupa muito ver jovens que não sabem o que é a experiência do silêncio”, comenta Frei Betto. O livro é todo marcado por tensões entre a mudez e a palavra; entre o interior e o exterior. Além de ser uma obra metalinguística, pois reflete sobre o mistério da linguagem e todos os seus caminhos.

O escritor, político e teólogo foi preso duas vezes durante o regime militar, que durou 21 anos (de 1964 a 1985). De sua segunda experiência, surgiram os livros “Cartas da Prisão”, “Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” e “Batismo de Sangue”, este último transportado para as telonas em 2007. Sua obra já foi traduzida para 24 idiomas. 


Texto também publicado no portal FalaCultura.

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