sábado, 24 de novembro de 2012

Namoro no Ipiranga, Óleo sobre Tela


Eu moro próximo à estação Bresser-Mooca do metrô; ele, ao lado da Jurubatuba, da CPTM. Dezenove estações e duas baldeações nos separam. Luís, meu namorado, costuma me ver aos sábados. Quando de compromissos seríssimos, modificamos para o domingo. Nada além, pois viver em São Paulo e namorar ao mesmo tempo é quase como fazer malabarismos: você, de início, crê que seja impossível, mas, depois, acaba desenvolvendo seu próprio método.

Nós dois, nessa cidade, dependentes do transporte público, nos sentimos um pouco o Wally e sua parceira, de “Onde está Wally?”. São tantas pessoas, correndo cada um com sua pressa, que se leva um tempo enorme para achar o outro no meio do caos. A verdade é que São Paulo tem o dom de lhe deixar com a sensação de que barulhos e movimentos nunca param de existir. 

Luís me encontra nos jardins à la Versailles do Museu do Ipiranga. A viagem para ele de fato é penosa, mas já se trata de um hábito criado – por mim. Meu sonho é conhecer Paris e o jardim, criado na década de 1920, por um paisagista alemão, me lembra muito a tal da Cidade Luz. É engraçado como nos sentimos estrangeiros em nossa própria cidade: começamos, assim, a observar algumas características suas e comparar com outros lugares, mesmo que nunca antes visitados.

Esse texto não tem como objetivo falar de minha estranheza com relação a Sampa, da dura poesia concreta de tuas esquinas. Ou de meu relacionamento amoroso. Parto daqui para uma observação feita enquanto esperava por Luís no último final de semana.

Apesar dos vários casais espalhados pelas veredas do jardim versailliano, vindos dos colégios das redondezas, como a Etec Getúlio Vargas, as pessoas não namoram mais fora. Não se namora mais em praças, como nos tempos de nossas avós ou como em cidades mais pacatas. Os bancos da região central, por exemplo, permanecem vazios ou ocupados por aqueles que se encontram no intervalo do almoço com a tarde de trabalho. Nos finais de semana, no Centro Velho, tudo ainda é mais deserto.

Hoje, e o fenômeno não é só local, as pessoas estão cada vez mais “dentro”. Casa, shopping, cinema, teatro, metrô ou até parque. A praça se tornou um local de mera passagem. A praça, arejada, com seu ar romântico, foi substituída pelas estações acinzentadas do metrô. Nos cantinhos próximos às escadas, perto das pilastras, quase nas catracas, sempre é possível observar casais em meio a beijos, abraços e carinhos. Vinicius de Moraes, o poetinha, em uma das crônicas do livro “Para Viver um Grande Amor”, já declarou sua posição favorável aos casais e aos namoros em público: faz quase um apelo para que não se perturbe aqueles jovens em seus pequenos momentos de intimidade. Praia ou praça, parque ou rua. “Deixem-nos!”.

O metrô, que era simplesmente um local de passagem, virou permanência. E a praça? A praça vai morrendo. Há aquelas explicações sobre o aumento da violência nos centros urbanos, a partir da década de 1980. As pessoas deixam de usar o espaço público, o número de shoppings centers começa a crescer demasiadamente, todos se recolhem cedo para suas casas e “viver na rua” passa a ser perigoso. As praças e pequenos parques são renegados, degradados, abandonados e estes passam a ser justamente os motivos para não se aproveitar mais esses espaços. 

Eu sonho em conhecer o Château de Versailles. E têm momentos em que simplesmente não entendo como uma cidade possa ser tão barulhenta. Mesmo amando São Paulo, eu procuro me distanciar um pouco, no pequeno pedaço de Paris no Museu do Ipiranga, ao lado de Luís, que não é o XIV.


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