domingo, 29 de abril de 2012

Jornalista é um bicho complicado

Não me lembro se foi no Estado ou na Folha ou no Observatório da Imprensa que li a crítica desse livro. Só me lembro que foi em março. E que fiquei na maior vontade de entrar na primeira livraria para comprá-lo. Os Imperfeccionistas, de Tom Rachman, foi recebido com entusiasmo por toda a imprensa. Na capa, a frase é do The New York Times e diz: "Nada menos que espetacular".

Eu simplesmente o devorei. Super fácil de ler e divertido, a estrutura do livro é bem interessante. Cada capítulo leva o nome de uma manchete de jornal e corresponde a um personagem. Lloyd, o correspondente em Paris; Arthur Gopal, o jornalista responsável pelos obituários; Hardy Benjamin, repórter de economia; Kathleen Solson, editora-chefe; Herman Cohen, chefe de redação; e por aí vai.
No entanto, entre um e outro, há um pequeno texto sobre o próprio jornal - que, aliás, não tem o nome mencionado na história: da época em que ele foi criado pelo poderoso Cyrus Ott até o dia em que precisa ser fechado pelo neto Oliver. Começamos na metade do século XX e chegamos até 2007. 

Os jornalistas, figuras geralmente egocêntricas, no livro de Rachman, se tornam apenas figurantes. Cada capítulo conta um pouco de um personagem, e os colegas de redação vão aparecendo apenas de passagem. Se assemelhando a pequenos contos, as personagens são ligadas pelo jornal em que trabalham. As histórias são engraçadíssimas e peculiares!

Apesar de ser uma obra ficcional, Tom Rachman retrata com muito bom humor (e veracidade) o cotidiano (ou ao menos a ideia dele) do jornalista. Fontes, deadline, estresse, café, poucas horas de sono, viagens etc. 



"O que lhe resta fazer é trabalhar com o que tem - valer-se de estratagemas numa matéria com fonte única, encher linguiça, com pano de fundo e rezar para que cole". Essa frase é da história do Lloyd, que está querendo empurrar uma matéria pra redação em Roma. Calma! Isso não é jornalismo. É desjornalismo. Rs. Absurdo eu grifar essa frase, ainda mais hoje que batemos palmas na faculdade em homenagem à nobre missão do jornalista. Hehehe!
Mas é que faz parte, né?! Todo jornalista, ao menos quando foca, já passou por isso. 

Ok, outra frase: "Então Kathleen aparece, exigindo um resumo do mundo no mesmo instante. Embora nunca aparente prestar atenção, ela absorve tudo". Perfeito!
É assim que eu me vejo: pedindo um resumo do mundo, não tendo tempo para esperar pela resposta, caminhando apressadamente pelo corredor, realizando mil coisas ao mesmo tempo, e já sabendo desde o início a réplica para a pergunta. Aquela vontade de ser uma jornalista com o mundo na cabeça sempre.


[MB]
27/04/2012

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