segunda-feira, 28 de novembro de 2011

27.11

Natal de 2008. Não vou mais comprar osso gigante e
embrulhar com papel de presente

Eu espero que você esteja bem. Na verdade, eu não sei o que falar, mas há uma necessidade em dizer algo. E, como eu não encontro palavras, as lágrimas começam a descer pelos caminhos do meu rosto. Nessas horas, as palavras realmente se mostram pequenas e inúteis. 

Agora, no café, foi um vazio. Não tinha ninguém para ficar me olhando e movendo patinha por patinha - com a maior cautela para não ser notado - até conseguir entrar na cozinha. Não pude gritar com ninguém "Sai, Timããão. Vai pro seu quarto!". Também não perguntei pra nenhuma pessoa se o Timão já acordou.

Você não falava nada e era aquele típico cachorro que nunca latia. Mas, hoje, o silêncio impera aqui em casa. Eu sei que, se você estivesse aqui, nós estaríamos falando - mesmo com você dormindo.

A primeira coisa que meu pai fez ao chegar ontem foi tirar seu "quarto" da sala. Ninguém suportava olhar mais. Meu pai também foi o primeiro a ir ao quintal e guardar o pote de água, como se ele quisesse esconder a realidade da gente. Hoje eu percebi que minha mãe não conseguia conter o olhar ao passar pela sala. Descendo ou subindo as escadas, nós sempre virávamos o rosto para vê-lo dormir.

Como a Mariana vai reagir quando souber? Com quem meu pai vai "caminhar" à noite"? Nos próximos domingos, quem vai arranhar a porta com medo dos fogos de artifício? E aquele menino que passa pela nossa casa, vai procurar o "Limão"?

Eu espero que você esteja bem. Na verdade, eu não sei o que falar, mas há uma necessidade em dizer algo. Você me fez, depois de muitos anos, voltar à cama de meus pais durante a madrugada.

MB

5 comentários:

  1. minha flor, espero que esteja bem...

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  2. Milena, isso me deu um apertão no coração!

    Eu espero que você esteja melhor.
    Pode ter certeza que o "Limão" está num lugar bem bacana, correndo por gramas verdinhas com um monte de outros cãezinhos bem bacanas!

    Beijo!

    ps: fazia tempo que eu não comentava aqui, mas leio sempre! ;)

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  3. Que pena que os cachorros morrem. Seu cachorro era lindo.

    E o pior é que a gente cria certas "rotinas" que invariavelmente vão fazer falta.

    E, todo dia quando acordo, brinco com Rufus antes de tomar café.

    Depois do seu post fico pensando como vai ser quando ele não estiver mais aqui. Ele com as orelhas caídas, com o olhar pidão, e com a efusividade que só os labradores tem. Com quem eu vou brincar antes do café? Quem vai chegar de mansinho e deitar nos meus pés pedindo carinho? Ahhhh! snif! snif!

    Seu cãozinho tá num lugar muito bacana, tenho certeza disso.

    Beijão!

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  4. Oi Milena,
    Você tocou em algo que eu mesmo tento esquecer.
    Mas acho que em alguma
    prosa poetica eu citei da Xirra, uma pastor alemão femea que viveu a
    minha infançia e adolescênçia muito perto de mim, mas hoje não está aqui, foi se embora no começo de 2006 e não deixou nada para atrás. Esteve nas horas mais dificeis da minha vida, era ela a guardiã que alertava que as minhas crises estavam acontecendo e todo mundo sabia que eu não estava bem, mas o que mais lembro dela era quando eu chorava, ninguem via, mas era ela que olhava pra mim, agachada e com aquele olhar de desconfiada, quando olhava pra ela tirava vista fingindo que não estava observando, mas estava ali pra acompanhar meu momento dificil. Quando foi embora, quem iria olhar pra mim? Talvez nessa hora você deva estar latindo do meu lado mas não posso ver, quando eu chegava era você que dava as Boas Vindas ou quando era o carro parecia uma festa, só minhas palavras consola agora, apenas tento ecoar o seu nome, que minhas memorias não esqueça que um dia você existiu nas nossas vidas, foi o animal mais docil e cuidadoso que já conheci. Obrigado Xirra!
    Então Milena não esqueça, da mesma alegria e tristeza todos nós compartilhamos o mesmo, eles foram nossos primeiros amigos, nunca falaram mas sua lealdade nos
    fez confiar tanto que nunca pensamos que perderiamos eles um dia. As vezes eu temo em sofrer a mesma dor para aqueles que falam e me faz sorrir, que ouve meus
    papos chatos e brigam com as minhas idéias toscas, tento de tudo em fugir pra não sentir o que será inevitavel, somos mortais não somos eternos mas não sei como
    vou fazer quando souber do primeiro viajante a barca. Só nos resta viver o mais cedo antes que tudo termine ao entardecer.

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