domingo, 15 de maio de 2011

Dos incômodos (Parte V)

Meu avô estava em um asilo. Sim, asilo. Era um imenso portão azul. Asilo. Não precisei nem atravessar a rua. Da calçada em que me encontrava, via meu avô. Ele estava sentado, com as pernas estiradas em um banquinho, lendo um livro. Bebia algum suco e escrevia algo em um caderno.

Se eu estivesse com ele, saberia o que estava bebendo e o que estava anotando de tão importante. Mas eu não estava. Por algum motivo maior, que eu não sei qual, e que, se soubesse, não sei se entenderia, ele escolheu ficar longe.

Tão lúcido, tão jovem, meu avô preferiu se exilar do mundo. Ele escolheu ficar atrás de um imenso portão azul e não contar para ninguém.

Aparentemente, ele estava bem. Nem a seu estado emocional eu tinha mais acesso. Ao mesmo tempo em que estava triste com essa decisão dele, eu estava feliz só de vê-lo tranqüilo.

Será que ele imaginava que nesse exato momento eu estava do outro lado da rua, olhando para ele?

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Não estamos mais em 1968.