Além disso, notei que mamãe estava se desentendendo muito com seu pai. Ela, que sempre fora paciente com Seu Genaro, agora não dispunha de mais tempo para conversas e só fazia reclamar o tempo todo. Um dia, escutei uma discussão entre ela e meu avô. Este dizia que algo “era besteira”, no qual ela respondeu que ele era “uma péssima influência para minha filha”. No caso, eu. Não sei do que falavam.
*
- Planeta Terra chamando Lara Capelano. Alô? - Oi, Padilha - Mauro, um colega de outra classe, tirou-me dos devaneios.
- Ih! Está quieta hoje, Larinha. Sério, se for por causa da passeata... – mexeu nos cabelos negros, ajeitou os óculos milimetricamente em seu nariz e me olhou, como quem pedia para que eu continuasse.
- Não. Não. Eu vou. Já avisei para o Carlinhos. Além do mais – abaixei-me e tirei da mochila – “70% acham que o Congresso deve aprovar o impeachment de Collor”, diz a Folha de S. Paulo de hoje. Olhe, 16 de agosto.
- Se você não quiser ir, não precisa. Já sabe disso – piscou para mim – Nos encontraremos no portão do colégio na saída. Até mais.
Ele fora sincero. Nesses 11 meses sem meu avô, dos quais eu não havia superado nada, meu colega Mauro fora o que mais havia me ouvido e me dado conselhos.
Assim como meus amigos, eu ia para a passeata novamente. Meu avô, se estivesse aqui comigo, ativista político do jeito que era, iria com certeza. Além do mais, eu adorava esse movimento de pintar os rostos. Divertia-me muito me mascarar e ir para o meio da multidão.
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