segunda-feira, 3 de maio de 2010

Que havia sido gente do colégio ninguém duvidava. A perícia continuava na sala da diretora, e os professores já estavam a caminho da delegacia. As aulas foram suspensas por hoje e, obviamente, demoraria um tempo para tudo retornar ao normal.
O tumulto em frente ao Santa Teresa dissipava-se, pois quase todos rumavam à delegacia atrás de alguma informação, alguma curiosidade.
A grande questão era: quem estava com a diretora na noite de quinta? A última aula se encerrava às 23h e, todos os dias, Miranda quedava-se arrumando papéis, documentos e organizando atividades recreativas para os sábados. Era uma boa diretora. Ninguém conseguia entender, ou pensar em alguém que pudesse desejar a morte da Sra. Reesolt.
Miranda era uma pessoa tão pacífica, tão sensível. Costumava sempre repetir que através de diálogos era possível resolver tudo.

-*-

- Paulo? Vem pra casa da Clarinha. A gente está aqui...
- Não dá, Mia. Estou fazendo uns trabalhos...
- Trabalhos? Que trabalhos?
- Do curso, ok?! Thau.

- Ele desligou. – Mia olhava diretamente para os colegas sentados no sofá: Clara, Bruno, Matheus e Bianca.
O policial passou o braço pelo ombro da garota.
- Liga de novo.
- Não foi ele! Eu sei que não foi! – Aos berros Mia deixou a sala.

-*-

- Sr. Azevedo, por favor. – aguardava o delegado com a maior paciência que lhe cabia ter naquele momento.
- Eu sinceramente não sei, já lhe falei. Eu passei na sala dela e me despedi. Tenho certeza de que estava sozinha, delegado.
- Não, não estava sozinha. O assassino já estava no colégio, Sr. Azevedo. Obviamente a diretora não estava sozinha!
- O Sr. está se alterando. Já lhe disse tudo o que sabia, com licença.

-*-

- Paulo, você tem de fugir!
- Está louca, Mia?! – arfava o garoto. – Você pula a janela do meu quarto e vem me acusar? Que base você tem para isso? Provas?
- Não. É porque estão desconfiando de você, da Dona Inácia e do professor Maurício. Eram os únicos que estavam lá ontem à noite.
- E daí? Estou lhe dizendo que não fui eu. E também, só estava lá com o professor Maurício porque ele me prometeu a ajuda no exercício da página 14. Que, aliás, você também queria, não é?! Mas não apareceu ontem... O que estava fazendo? – indagava desconfiado.

Mia encarava-o com um ar de incredulidade. Simplesmente abriu a porta e não se despediu.


-*-

- Meu senhor, por conta de quê que eu ia matar a Sra. Diretora? – choramingava a faxineira.
- Calma, Dona Inácia. – A policial passava-lhe um lenço. – Foi só uma pergunta do delegado. Ele não está acusando-lhe. Mas precisa saber se havia mais alguém no colégio, além da senhora, do professor e do aluno, e o que a senhora conversou com a diretora, já que foi a última a entrar em seu escritório.
- Sei não se tinha mais alguém naquele “breu” de escola. Só fui na sala da Sra. Diretora porque ela fez um pedido aí.

-*-

- Dona Miranda! Como está quente aqui dentro. Está cheirando mal...
Inácia dirigiu-se às janelas e abriu as vidraças. O vento adentrava o espaço no mesmo ritmo desesperado das estrelas afora, balançava as cortinas e levava o cheiro de Ricinus presente no escritório.
- Traga-me um pouco de suco, Inácia.
- De que? Eita! A Sra. está chorando por causa de que?
- Um pouco de suco, Inácia. Por favor!
A faxineira dirigia-se à porta para atender ao pedido da diretora e, assim, levava suas últimas horas de vida. Sem saber, é claro. É?

-*-

Ninguém tinha pensado nessa hipótese ainda. Um suicídio? Era meio óbvio, visto que foram encontrados no bolso do casaco da diretora alguns vidrinhos de veneno.

- A perita chegou a essa conclusão, então? – perguntou o delegado à policial.
- Ainda temos 30 dias para o laudo final. Mas faz sentido, não? Tanto os depoimentos como o trabalho da equipe da perícia.
- Ótimo. Caso quase encerrado, não?! – disse o delegado ironicamente.

-*-

Inácia cambaleava com a bandeja às mãos. Insistia em levar um pedaço de bolo de chocolate para a diretora. Segundo a faxineira, ela parecia tão triste, não?!
O copo não estava tão cheio. E Inácia não era tão desastrada. Com certeza, ela poderia andar mais depressa.

-*-

Paulo saía da escola apressado com o chaveiro das salas, banheiros e escritórios balançando ao bolso.
- Que demora, menino. Guardou os livros no armário? – perguntou o professor impaciente. – Só de pensar que amanhã teremos de estar aqui cedo novamente...
- É...

-*-

- Mirandinha. Fechar as portas? Muito feio isso. Não gostei! Ao mesmo tempo, abrir as janelas deu um pouquinho mais de perigo à situação. Deixa eu lhe dar um abraço. Não gosto de ninguém chorando em noites como essa...

Junto à porta - do lado de fora:
- Dona Miranda, seu suco está aqui fora. Não pretendo atrapalhar-los. E tem um bolinho para ajudar na digestão.
Inácia encaminhava-se para sua noite de descanso, pois sabia que amanhã seria um dia cheio.

Ela era sensível até demais. Acreditava no poder das palavras. É possível resolver tudo através de diálogos? Ou com base em diálogos?
Nada se sabe. Miranda resolveu esquecer a sua tese e permanecer calada naquela noite sombria.
O visitante ajudava a cumprir o destino – escolhido? - da diretora.


I need to die to feel alive! (Bye Bye Beautiful - Nightwish)


(Milena Buarque)
Texto para Once Upon a Time.

5 comentários:

  1. Mi, muito bom o texto!!
    eu gostei muito vc ter relacionado o fato de ela acreditar em algo com o tipo de texto q vc fez e com o final.
    nooossa, muito bom. tipo, foi de dentro da escola, vc deixou como fato. ao mesmo tempo nao consigo identificar. hehe
    foi todo mundo? ela ja ia se matar?

    putz, eu gostei demais.
    parabéns, amiga!
    continua a história q eu quero saber.

    levou 11 min. a ação?
    ;*

    ResponderExcluir
  2. Liiiiiiih.
    Obrigada! Que bom que você gostou.
    Ah, não sei se ela já iria se matar. HEHEHE.

    Pode ter levado 11 min. sim. Na verdade, eu vi essa imagem depois de ter terminado o texto aqui no pc, e resolvi colocar.
    :)

    Beijos querida,
    :*

    ResponderExcluir
  3. sempre arrasa nos textos, Tê. parabens!
    e essa 'foto da semana', hein malandra?! hahaha
    gostei nao...

    bjs,
    bruno!

    ResponderExcluir
  4. Vc escreve muito bem.. Com um ar de mistério.. suspense! Gostei :)
    Estava lendo seu perfil e me identifiquei.. rs! Tbm quero ser jornalista e sou apaixonada por teatro!!
    Amei o blog *-*
    Obrigadaa pela visita viu? Vou voltar mais vzs aqui..
    Beijãoo!!

    ResponderExcluir
  5. Ótimo texto menina! Tem selo pra você no meu blog, cada dia gosto mais daqui. estou seguindo!

    ResponderExcluir

Não estamos mais em 1968.