domingo, 25 de abril de 2010

- Você é um ridículo! – disse ela com firmeza. Era a primeira vez que conseguia concluir uma frase sem ser interrompida por um incessante derramamento de gotículas pelo rosto. Como uma cachoeira de água salgada desaguando em seus lábios.

- Bia, você pode me deixar explicar? Eu tento falar, mas você não deixa.

- Não há nada para falar, Hugo. Nada. Você não compreende, não é?! Não dá para a gente ficar junto. Eu sempre abri mão de tudo por nós dois. E agora, você vai embora assim...

- Eu te amo. – Hugo não sabia mais o que dizer. Tem coisas que não conseguimos exprimir em um texto. As palavras são insuficientes para as dimensões de um sentimento. E três palavras, por mais significativas que fossem, eram ineficientes.

Hugo amava Bia. Bia amava Hugo. Tudo parecia perfeito. Não há uma terceira pessoa nessa história. Mas nem tudo que parece perfeito, realmente está bem. Porque o conceito de ‘perfeito’ é algo ligado à aparência. Levando em conta que o amor é imensurável, indefinível, incontestável, ele não tem uma aparência certa. Mas quando observamos o olhar de uma mãe dirigido a seu filho, um casal dormindo abraçado em meio ao silêncio, dois irmãos brincando juntos, sentimos que vemos o amor.

- É? Uma pena. Eu acho melhor ficar sozinha que amar a pessoa errada. – Beatriz Albuquerque rezava para que as lágrimas fizessem o caminho contrário.

- Isso não existe, meu amor. Quem ama o errado, certo lhe parece. Vem aqui... – Hugo pegou a mão de Bia e deu-lhe um beijo em sua fronte. Se ele soubesse o quanto a garota o admirava.

- De repente do riso fez-se o pranto. – Bia adorava falar trechos de poemas quando estava com Hugo. Ele a conhecia tão bem e era tão inteligente. Três anos completos e agora ela não sabia mais como era viver "só uma metade".

- Minha namorada é tão dramática! Assim, parece que estou indo para outro planeta, Beatriz. Não. Você fala como se eu nunca mais fosse voltar. – Fazendo cafuné nos cabelos compridos e encaracolados dela, Hugo a olhava com um sorriso tímido no canto esquerdo da boca.

- Le temps passait, le temps filait, et tu paraissais si facile, si simple, libre, si nouveau et si unique. Você sabe que está levando meu coração, não é?!

- E se você me conhecesse de verdade, saberia que minha vida longe de você não existe. Sim, estou indo. Mas nos seus sonhos mais profundos, eu estarei aqui. Voltarei todas as noites para vê-la dormir. Voltarei para escutar as nossas músicas, para ver você dançando na areia, para lhe dizer que a amo mais do que você possa imaginar. Voltarei para ouvir as nossas verdades, meu amor...



(Milena Buarque)
Texto para Once Upon a Time.

PS: A enquete para o próximo profile continua rolando!

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Não estamos mais em 1968.